Fazer de conta ou fazer de verdade

“Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres humanos são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas para satisfazê-los. Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro.” Dalai Lama

Jovens foram parar na delegacia de polícia, flagrados tentando fraudar o vestibular de medicina numa faculdade particular. Se aprovados, suas famílias pagariam uns milhares de reais de mensalidade. Sendo todos de outros estados, haveria a despesa com moradia, transporte e tudo o mais que somente a mensalidade não pagaria. Se não tivessem sido flagrados, alguns ou todos viriam a fazer o belíssimo e indispensável juramento de Hipócrates, numa bem produzida série de eventos alusivos à formatura, mas, teriam começado como hipócritas.

Numa outra faculdade, num curso de tecnólogo, à distância, aulas uma vez por semana, durante duas horas, com intervalo, graduação após dois anos: vários alunos chegam atrasados e sem motivo justificável, mesmo as aulas iniciando após vinte horas e trinta minutos, saem durante as aulas, retornam bem após o final do intervalo e, tão logo assinam a presença, vão embora, até mais de quarenta minutos antes do encerramento. Dentre esses, não poucos, conversam durante as aulas, fazem gozações e reclamações contra alguns dos professores, dentre os que não lhes pareçam bonitos, simpáticos, carismáticos etc. A mensalidade é pouco além de duzentos reais e vários estudam com bolsa parcial ou integral.

No primeiro caso, um vestibular com grau de dificuldade maior, não tanto quanto o encontrado em instituições de maior renome e públicas. No segundo caso, o vestibular é mera formalidade, tão fácil, que praticamente não passa apenas quem não comparece. Um curso com mais quantidade de conteúdo e o outro, com bem menos. Ambos, legais, sérios e altamente aproveitáveis – a depender de cada discente.

Costumo dizer ser um desperdício dormir e é isso que a gente faz ao longo de um terço da vida. Meio que brinco, meio que falo sério; resignado, durmo umas seis horas por noite, afinal, quero continuar vivo. Dos dois terços de tempo que me sobram, se somar o tanto que desperdiço, mesmo não querendo, ficaria surpreso e triste.

Por este raciocínio, quem não quer estudar, que não estude. Da brevidade de tempo que ficamos acordados, é uma tolice desperdiçar horas e anos fazendo de conta ser um estudante. Vai que o sujeito consegue, fazendo de conta, se formar? Aí, passará o resto da vida fazendo de conta ser condizente e merecedor daqueles belos e mentirosos diplomas estampados na parede ou na mesa. Também por isso todos os segmentos da nossa sociedade são poluídos por uma porção de fazedores de conta…

Para quem opta por fazer de conta no estudo formal ou informal e para demais atividades e relacionamentos, lembrar que sempre existe quem opta por fazer de verdade. Riscos e imprevistos acontecem qual seja a escolha. Desnecessário, entretanto, dizer quem tem as maiores e mais concretas chances de se dar bem, mesmo…

Sendo a vida tão breve, até para os agraciados com a longevidade, e não sabendo ninguém quanto tempo terá, convém pensar-se com esmero e logo decidir-se entre vivê-la fazendo de conta ou fazendo de verdade!

José Carlos de Oliveira 

Publicado originalmente em 3 de fevereiro de 2012

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