O profissional que seleciona

Gestor e gerente de recursos humanos, selecionador de pessoal, headhunter, coach, recrutador e empregador são gente como você. Têm sonhos, problemas, limites e carências. Erram, e mesmo quando acertam nem sempre satisfazem a si ou todos com os quais interagem.

Supõe-se que, no exercício do seu ofício, sejam altamente profissionais, repletos de habilidades indispensáveis; extremamente observadores e estudiosos da natureza humana, fazendo disso trunfo para um pensar e agir repletos de equilíbrio, ética, sensatez e objetividade. Eis que assim é, porém, nem sempre; não com todos. Como nos vários setores do viver, há aqui também os embusteiros: os sérios e não capazes, os capazes e não sérios, os nem capazes e nem sérios.

Nas estruturas empresariais dotadas de máquinas, programas, regulamentos etc, com tecnologia cada vez mais avançada, estão seres humanos. Pessoas cada vez mais substituíveis por máquinas, porém, não tanto e não eu tudo. Com pretexto de aparentemente estar fazendo o que é melhor ou correto para a empresa que possui ou representa, quanta vez o indivíduo, até famoso, importante e respeitável, age assim só no discurso e na aparência, e, na prática, em causa própria: transfere, demite, constrange ou descarta pessoa com a qual não simpatizou, contra a qual impôs um dos seus preconceitos, na qual viu potencial concorrente; ou, contrata, privilegia, protege e promove pessoa à qual deve favor lícito ou não, com a qual compartilha prática religiosa, política, sexual ou de outra ordem.

Ante o polêmico trio tentador – sexo, dinheiro e poder – todos nós temos preço: uns, no geral, valem fortunas impagáveis; outros, no geral, valem tão pouco que se vendem por preço de quinquilharias contrabandeadas. Faço duas reiterações: escrevi “todos” e não apenas os “profissionais que selecionam”; e aqueles que referi como valendo fortunas impagáveis, ou seja, dotados de dignidade elevada e real, devem estar alertas e em busca de fortaleza maior, pois, escrevi “no geral” e não “sempre”. Aos melhores dentre nós cabe agir em prol da eficácia, eficiência e inovação, constante e consistente. Ser sério ou pilantra é questão de escolhas e estas, inapelavelmente, dependem do verdadeiro caráter de cada um e não da personagem que se tenta impor às pessoas com as quais se relaciona. Nas artes cênicas cotidianas os canastrões proliferam.

Ora, se o profissional que seleciona, orienta, assessora e contrata é limitado, falível etc, deve cair em descrédito? Não, e quem assim o fizer estará dispensando apoio utilíssimo. Aquele que diz, por exemplo, ter aprendido pouco porque as escolas frequentadas e seus professores eram precários, sem qualidade e empenho, mesmo que tenha acertado em suas impressões, deveria dizer: “aprendi pouco porque fui ainda pior que minhas escolas e professores; fui incapaz de vencer minha preguiça e obtusidade e não fiz a menor diferença.” Enquanto depender só de boas escolas e professores precisará demais do esforço e vontade alheios para o benefício próprio: claro que pode dar certo eventualmente, mas, tal pequenez está mais para o acaso a beneficiar meros medíocres. A cereja azeda desse bolo embatumado é o vexame de desperdiçar a vida culpando somente terceiros pelos próprios fracassos.

Nenhum profissional que seleciona é herói, mas, nem todos são vilões. Como as escolas e professores, não têm todas as respostas e estas deveriam ser encontradas mais pelo próprio perguntador ou aprendiz. O profissional selecionador e orientador é o que escuta e dá pistas àqueles que eventualmente precisam de ajuda, porém, são capazes e querem vencer com o próprio esforço. Pode caminhar com o candidato a emprego, em alguns trechos. Não vai caminhar para ele.

Quem mais poderia se beneficiar dos serviços dos selecionadores e consultores de recursos humanos costuma tratá-los como meros encaminhadores de gente, apresentadores de cardápios com vagas a serem escolhidas e até exigidas, por mais desqualificado ou inadequado que seja o candidato. Escrever isto é inútil ante quase todos. Escrevo, na esperança de deparar com alguém dentre esses, que finalmente comece a despertar…

O processo seletivo é recíproco e fazê-lo com qualidade é exercício e aprendizado para a vida toda.

José Carlos de Oliveira

Publicado originalmente em 1 de abril de 2007

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