Santos e imagens

(CIC 828, 956, 1159 a 1162; CV 419 a 422)

“Imagens são apenas o que são: sinais!”

Imagem é só um objeto ou sinal que lembra a pessoa representada. Ídolo “é o ser em si mesmo”. A quebra duma imagem não destrói o ser que representa; já a destruição de um ídolo implica a destruição da falsa divindade.

A Igreja presta culto de adoração (latria) para Deus e somente para Ele. O reconhecemos como Todo-Poderoso e Senhor do universo. Aos Santos e Anjos a Igreja presta um culto de veneração (“dulia”), homenagem.

Rogando aos Santos, não os consideramos mais que apenas nossos intercessores para com Jesus Cristo, que é o único Medianeiro (1Tm 2, 5), que nos libertou com Seu Sangue e por meio do qual poderemos conseguir a Salvação. A intercessão dos Santos não substitui a única e essencial mediação de Cristo, o único Sacerdote. Uma intercessão “por meio de” Cristo não é paralela nem substitutiva. Sem a mediação única de Cristo nenhuma outra tem poder.

Quando se olha para a imagem de um Santo o significado é profundo: lembra que a pessoa ali representada é Santa, pois, viveu conforme a vontade de Deus, sendo um modelo de vida para todos. Lembra, ainda, que aquela pessoa, apenas representada num sinal esculpido ou pintado, está no Céu, na comunhão plena com o Senhor, e intercede por nós incessantemente.

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que “ia passar o Céu na Terra”, isto é, intercedendo pelas pessoas. São Jerônimo dizia: “Se, aqui na Terra, os Santos, em vida, rezavam e trabalhavam tanto por nós, quanto mais não o farão no Céu, diante de Deus”.

A imagem de um Santo lembra que ele é Santo pelo poder e graça de Deus; então, a veneração da imagem dá glória ao Senhor, mais que ao Santo.

Podemos tocar e beijar as imagens como um gesto de amor, reverência e veneração, não de adoração. Não fazemos isso com a imagem de um ente querido falecido? Podemos admirar as imagens – por isso elas devem ser bem feitas, em clima de oração – e rezar diante delas, pedindo ao Santo, ali representado, que interceda diante de Deus. É Ele quem faz o milagre, mas o pedido vem dos Santos, como nas Bodas de Caná, onde Jesus fez a transformação de 600 litros de água em vinho, “porque Sua Mãe intercedeu”.

Quando precisamos da ajuda de uma pessoa importante e não conseguimos chegar até ela, procuramos um intercessor, que seja amigo dessa pessoa, para fazer a ela o nosso pedido. E a pessoa atende por ter intimidade com nosso intercessor.

Fazemos o mesmo com Deus: não temos intimidade com Ele como os Santos que já estão na Sua glória. Nossos pecados limitam nossa intimidade com o Pai; então, os Santos nos ajudam.

Como eles podem ouvir todos os pedidos ao mesmo tempo sem que tenham a onisciência e a onipresença de Deus? Na vida eterna já não há mais as realidades terrenas do tempo e espaço. A comunhão perfeita com Deus dá aos Santos o conhecimento de nossas orações e pedidos e, na plenitude de Deus, e por meio d’Ele, não há a dificuldade de atender a todos ao mesmo tempo, pois já não existe mais esse fator limitador. No Céu, a realidade é outra.

Se no plano terreno nossos pedidos forem equivalentes à asquerosa “lei de Gerson” (levar vantagem em tudo…), ao jeitinho brasileiro (como sinônimo de pequenas ou grandes corrupções), nossa consciência não nos permitirá esquecer, ainda que sejamos atendidos.

Podemos evidentemente pedir e rezar diretamente a Deus. Porém, seja diretamente a Ele ou por intermédio de um Santo intercessor, se o que rezamos e pedimos não é convergente com o que o Santo Livro ensina, ou, se não costumamos ou não temos a disposição de também nós fazermos bem a parte que nos cabe, Ele sabe perfeitamente o que está em nossa mente e coração…

São João Damasceno, Doutor da Igreja, dizia: “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus.”

(O trecho acima é uma adaptação de “Por que a Igreja Católica cultua a imagem de santos?” – de Felipe Aquino: professor, comunicador, escritor, formador da doutrina católica)

Santa Maria, mãe de Jesus

A devoção popular, pela inculturação – que facilita a compreensão da Boa Nova em cada recanto do mundo, mantida a fidelidade ao Evangelho – deu centenas de nomes locais para Maria, a cheia de Graça. Diz o CV II: “… esclareçam corretamente o papel e os privilégios de Nossa Senhora, sempre em vista de Cristo, que é a fonte de toda verdade, santidade e piedade. Evitem tudo que possa induzir os irmãos separados ao erro, no que diz respeito à doutrina da Igreja” (vide artigo completo: 443).

Que é Graça? Deus é Graça. Portanto, quem tem Deus tem a Sua Graça!

A mãe de Jesus foi cheia de Graça desde o início de sua vida, fruto da Graça de Deus. Mesmo assim, para que o Plano de Deus acontecesse (Jesus, nosso Salvador, entre nós) Maria de Nazaré precisava dar o seu sim, o sim da humanidade. A adesão de fé na Graça é indispensável em tudo na vida da gente, o que exige que façamos nossa parte: “Deus ajuda a quem cedo madruga!”

Compartilhemos ensinamento riquíssimo das Bodas de Caná (Jo 2, 1-11):

Maria orientou, com firmeza, que se enchessem as talhas com água e a todos pareceu estranho. Se o que faltava era vinho, para que água? Aconteceu o milagre da água transformada em vinho.

A água é o nosso esforço e a nossa obediência; é importante, mas não passa de água. O vinho resulta do esforço humano coroado pela Graça de Deus: Aquele sem O qual não conseguimos a plenitude do que fazemos e do que somos, e sem O qual nossas dificuldades serão insuperáveis. Se escolhermos ser como talhas vazias, sem água boa, a Graça não terá nada para transformar (CIC 35, 54,1999 e 2008)…

“Só a Deus nós adoramos”, aos Santos nós veneramos e a Maria hiperveneramos

Culto de latria (do grego, “latreuo”) quer dizer adorar. Culto de dulia (do grego “douleuo”) quer dizer honrar, venerar; homenagear. Protodulia (proto quer dizer primeiro) é devida a São José, o primeiro dos santos, depois de Maria.

Culto de hiperdulia ou hiperveneração (do grego, hyper, acima de) quer dizer acima do culto de honra, de veneração e de homenagem; sem atingir, sem alcançar e sem equivaler ao culto de adoração. O Criador quis precisar de Maria: a primeira cristã, primeira comungante. Segundo São Luís Maria Grignion de Montfort , “Maria estava já cheia de graça ao ser saudada pelo arcanjo Gabriel, mas recebeu uma plenitude superabundante de graça quando o Espírito Santo a revestiu com a sua sombra inefável. De tal modo essa dupla plenitude foi aumentando, dia a dia, momento a momento, que a sua alma atingiu um grau de graça imenso e inconcebível.” Maria, “unida a Cristo por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada da missão sublime e da dignidade de ser Mãe do Filho de Deus, e, por isso, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por este dom de graça exímia supera de muito todas as outras criaturas, celestes e terrestres” (LG 53).

José Carlos de Oliveira

Publicação original em 01 de fevereiro de 2017

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