A Páscoa é mais saborosa que chocolate!

Breves considerações sobre alguns dos símbolos da Páscoa.

Cordeiro      

O cordeiro era sacrificado no primeiro dia da Páscoa, no templo, como memorial da libertação do Egito: seu sangue foi o sinal que livrou os primogênitos que o faraó mandara matar. Seu sangue era derramado no templo e sua carne comida na ceia pascal. Este cordeiro antecipava a Cristo, ao qual Paulo chama “nossa Páscoa” (1Cor 5, 7). João Batista, na margem do rio Jordão, vê Jesus passando e diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29.36). Também o disse o profeta Isaías (Is 53, 7-12). E o Apocalipse O cita como cordeiro sacrificado, então vivo e glorioso (Ap 5, 6.12; 13, 8).

Pão e Vinho

Na sua ceia Jesus escolheu o pão e o vinho para passar e extravasar o seu amor. Como sendo seu corpo e sangue, são partilhados entre seus discípulos para celebrar a vida eterna (CIC 1375-76, 1413, 1333-35).

Cruz

A cruz mistifica todo o significado da Páscoa na ressurreição e também no sofrimento de Cristo. No Concílio de Nicéia, em 325 d.C., a cruz foi decretada símbolo oficial do cristianismo. Símbolo da Páscoa, mas, símbolo primordial da fé cristã (CIC 2015, 1741, 1992, 2305).

Círio Pascal

Círio Pascal é uma vela grande que é acesa no Sábado Santo, já no início da celebração da Vigília Pascal. O fogo destrói as trevas e a luz que é Jesus extirpa a treva do erro e da morte. É o fogo novo, luz dos povos, o símbolo de Jesus ressuscitado. Abençoa-se o fogo e nele se acende o Círio; faz-se a inscrição dos algarismos do ano vigente; a seguir são cravados cinco grãos de incenso que lembram as cinco chagas de Jesus, e as letras “alfa” e “ômega”, primeira e última letra do alfabeto grego, que significam o princípio e o fim de todas as coisas.

Ovo

 O costume de presentear as pessoas na época da Páscoa com ovos ornamentados e coloridos começou na antiguidade. O ovo é um símbolo de vida nova, de vida que está para nascer; é um símbolo de começo. Daí sua associação à Páscoa: a ressurreição de Jesus também indica o princípio de uma nova vida, a redenção da própria humanidade e a promessa de um futuro cheio de alegria e felicidade para os que têm fé e esperança. Dentro do ovo gera-se uma vida, a vida é o dom mais precioso de Deus. Ressuscitando para uma vida nova, Jesus revela a preciosidade que é a vida.    

Os egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante. Os cristãos primitivos da Mesopotâmia foram os primeiros a usar ovos coloridos na Páscoa. Em alguns países europeus, os ovos são coloridos para representar a alegria da ressurreição. Na Grã-Bretanha, costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos dados aos amigos. Na Alemanha, os ovos eram dados às crianças junto de outros presentes na Páscoa. Na Armênia decoravam ovos ocos com retratos de Cristo, da Virgem Maria e de outras imagens religiosas. No século XIX, ovos de confeito decorados com uma janela em uma ponta e pequenas cenas dentro eram presentes populares. Mas os ovos ainda não eram comestíveis. Pelo menos como a gente conhece hoje, com todo aquele chocolate.       

Atualmente, as crianças encontram ovos de chocolate ou “ninhos” cheios de doces nas mesas na manhã de Páscoa. No Brasil, as crianças montam seus próprios “cestinhos de Páscoa”, enchem com palha ou papel, esperando o coelhinho deixar os ovinhos durante a madrugada. Nos Estados Unidos e outros países as crianças saem na manhã de Páscoa pela casa ou pelo quintal em busca dos ovinhos escondidos. Em algumas regiões os ovos são escondidos em lugares públicos e as crianças da comunidade são convidadas a encontrá-los, celebrando uma festa comunitária.

Lojas, supermercados, shoppings, ambulantes e publicidade comercial em tudo quanto é lugar impõem fartura de chocolates na forma de ovos, barras e o que mais puder resultar em vendas desenfreadas. Tal exagero não consegue adoçar o gosto amargo das cavalares doses de desigualdade e injustiça, de materialismo, consumismo, individualismo, egoísmo, sectarismo e relativismo.

Dos símbolos citados o ovo é o menos importante: a Páscoa é mais saborosa que chocolate!

Quaresma e Semana Santa convergem para a Páscoa de Jesus, que, de tão marcante, é estendida às semanas seguintes: data máxima e essência do cristianismo. Fundamental que cristãos o saibam e vivenciem; importante para o saber e consideração dos não cristãos. Entre esses e aqueles prevalecem os que se comprazem moldando e reduzindo tudo a feriado, viagem, descanso, coelho, ovos de chocolate e comilanças – quanta vez, até na Sexta-feira Santa, com excesso de bacalhau ou similares e acompanhamentos alcoólicos, sob a alegação de que se estaria exercendo cristianismo…

Do hebreu Peseach, Páscoa significa passagem da escravidão para liberdade. Nela se comemora a Passagem de Cristo “deste mundo para o mundo do Pai”, da “morte para a vida”, das “trevas para a luz”. Ressurreição é uma vida nova vivida além desta vida. A palavra ressuscitar vem do latim, e significa “despertar”, “reanimar”, “fazer viver”.

Estou entre os que procuram participar das celebrações ao longo e conforme o ano litúrgico, principalmente, durante seu ciclo mais forte, o da Páscoa. Estudei e conheço a fundamentação, entendo-a e estudo-a para continuar aprendendo, ensino-a aos que se interessam. Porém, ainda não consigo celebrar e corresponder com a intensidade que almejo e vejo em outros: gente que em geral mal sabe sequer das breves informações aqui postas, mas, se entrega com fé serena e forte; e, mesmo nem percebendo ou sabendo explicar de todo, sente, se beneficia, celebra e se torna aos poucos pessoa mais correspondente à condição de cristã (pessoa ética na essência e não só na aparência…).

 Maravilhoso e esperançoso que sempre haja entre os mais estudiosos e os mais piedosos pessoas capazes de perseverar em aderir e saborear a Páscoa para muito além do sabor do chocolate: aprendendo, convertendo e correspondendo a cada ano um pouco mais.

Que você e eu possamos saborear os bem vindos e deliciosos ovos e barras de chocolate conforme nosso gosto e bolso, sem abusos contra a saúde; que sejamos solidários para com quem não pode ter uns ovinhos para si e seus amados. Que, gostando ou não de chocolate, concebamos e nos compromissemos com a Páscoa pelo que ela realmente é: tempo de preparação, de celebração e de graça. A Páscoa é de Jesus e a celebramos, na esperança concreta e entusiasmada da nossa (abnegados, mas, não interesseiros…).

“Até que sejamos todos um só (povo) em Cristo” jamais acontecerá apenas com intervenções humanas. Não é casual que a hipocrisia foi o comportamento mais combatido por Ele e continue sendo o comportamento mais comum também entre os cristãos… Não é casual que a toda hora alguém que não quis ou não soube conviver  funde a sua igreja e versão do cristianismo em nome d’Ele e garanta que lá, somente lá, Ele estaria… Não é casual que na Igreja original e nas suas dissidências, e nas incontáveis dissidências das dissidências, acolhida e partilha comumente fiquem mais ou só no discurso e pregação…  

Mesmo assim, existem milhões de sinceros e esforçados cristãos de verdade, apesar das contraditórias e vexatórias divisões: bons exemplos e boas companhias, recíprocamente, para outros crentes  – cristãos ou não – e para não crentes realmente éticos e de boa vontade!  

           

José Carlos de Oliveira

            Publicado originalmente em 29 de março de 2019

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