“Ser igual ou ser exemplo?”

O homem que sabe fazer a parte dos outros e não a dele:     

  • Vi essa vaga no jornal e vim para começar a trabalhar.
  • O senhor trouxe currículo, documentos e referências?
  • Não. O anúncio não pedia nada disso, moça!
  • Desculpe, está aqui, com licença (indicando o anúncio no jornal comprado pelo próprio candidato). Mas podemos resolver; o que importa é que o senhor esteja apto para a vaga, não é mesmo?
  • Me dá o endereço da firma que vou lá agora!
  • Calma, não é bem assim. Posso explicar como precisamos fazer e…
  • Então (interrompendo a pessoa que o atendia), para que anunciaram a vaga? Eu vi, estou de acordo com o perfil e se você não me disser qual é a empresa vou denunciar vocês na rádio X e no Ministério (supõe-se, o do Trabalho)!…
  • O senhor está exaltado. Acredito que não seja fácil, mas, assim não poderemos tentar ajudá-lo. Procure se acalmar!
  • Calma? Já deixei meu currículo em todo lugar, sempre dizem que vão me chamar e nunca chamam. Só deixo o currículo aqui se você garantir que o emprego é meu!…

O homem que parece clone do homem de cima:

Na recepção da agência o atendente ausentou-se por não mais que dois minutos, a serviço. Nesse intervalo, chegou um rapaz, entre 30 a 40 anos, caminhar lento, cheio de pose, mãos nos bolsos. Entrou, desagradou-se com o lugar vazio, olhou o ambiente de alto a baixo, com desdém, não leu as orientações à sua frente, nem mesmo o pedido para aguardar um momento, dirigiu-se à uma moça, que acabara de sentar e esperava atendimento. Disse-lhe:

  • É incrível como essa gente consegue trabalhar desse jeito!…

E começou a retirar-se com a mesma pose e lentidão, apressando o passo, sem olhar para trás, ao notar que o atendente ouvira seu comentário. Na verdade, também vira sua atitude, pela vidraça que separa a recepção da outra sala.

O atendente e a moça cumprimentaram-se efusivamente: ela viera agradecer, após completar um mês no novo emprego, conseguido por intermédio da agência, que conhecera por indicação da irmã; já umas dez pessoas ligadas por parentesco ou amizade, haviam travado relações com a agência – duas conseguiram emprego por ali e todas tinham em comum bons comentários a fazer quanto ao atendimento que lhes é dado.

Dois casos reais, não isolados, há outros, piores, quanto ao uso de ignorância, intolerância e indolência.

Desempregado adepto de ideias e atitudes assim geralmente perdeu o emprego por causa delas: atrapalham seu passado, seu presente e seu futuro – enquanto tenha olhos, mas, não saiba enxergar. Os dois protagonistas, se dessem sua versão, talvez, confirmassem convicção do seu acerto e do meu erro.

Amo o dizer duma antiga propaganda: “Ser igual ou ser exemplo?” Serve para qualquer pessoa, dependendo do que cada qual queira fazer da própria vida. Todos nós temos nossos momentos de igual ou de exemplo. Acomodar em ser igual vai impossibilitando ser exemplo. Agir e habituar em ser exemplo vai impossibilitando ser igual.

O que vai ser? Ser igual é cada vez mais fácil; ser exemplo é cada vez mais indispensável.

José Carlos de Oliveira 

Publicado originalmente em 3 de dezembro de 2006

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