O que é seleção? Você também seleciona!

Quando chegar o Natal e o Ano Novo, quem tiver mais dinheiro comprará castanhas e panetones a quaisquer preços. Quem tiver menos no bolso comprará pedaço de melancia e panetone em promoção, se os encontrar. Quem não tiver nada…

Com exceção de quem não veja nada nestas datas, seja “pão duro” demais ou tenha outro motivo específico, do mais rico ao mais pobre, todos escolheremos a castanha, panetone ou melancia olhando as boas condições da embalagem ou casca, o cheiro, a aparência geral, provaremos um pedacinho, se possível, enfim, qual seja o preço que possamos e queiramos pagar, vamos escolher o melhor. Mesmo nas liquidações, “queimas de estoque”, “raspas de tacho” ou “fins de feira”, sabendo que temos as sobras e os restos, tentaremos escolher o produto com melhores condições. E sob nosso ponto de vista, seja ele sensato ou equivocado e até influenciado por terceiros.

Falemos de contratar empregado. Você pode não ser patrão, mas, é um consumidor e deve ter sentido familiaridade entre os dois parágrafos acima e o seu próprio dia a dia nos mercados, feiras e lojas da vida. Imagine-se um empregador – micro, de “fundo de quintal” ou dono de grande empresa. Consideremos que você, diretamente ou através de agência de empregos, precisa contratar alguém – de alto nível ou função básica. Você adotaria o mesmo princípio que se usa para comprar melancia ou outros produtos e serviços? Empregador, conforme suas possibilidades, interesses e critérios, vai procurar o empregado que apresente características, pretensões e qualificações ao máximo convergentes com suas necessidades.

Você poderá dizer que existe patrão incompetente e explorador. Concordo, mas também existe patrão competente e explorado. Você poderá dizer que existem injustiças: – Fulano foi contratado por ser parente ou apadrinhado; – Sicrano é burro e preguiçoso, mas, é funcionário público e tem estabilidade. Sim, mas, ao menos, ele passou num concurso e muitos funcionários públicos merecem o salário que recebem e o título de servidores (que servem aos cidadãos) e, em que pese o privilégio altamente questionável do parentesco e do apadrinhamento, uns parentes e apadrinhados, é difícil admitir isso, nem sempre se revelam parasitas. Você poderá dizer que exigem experiência comprovada, mas, não é exatamente uma regra e existem exceções – e o que mata é não ter experiência e nenhuma outra qualidade (perseverança, por exemplo). Você poderá citar outros preconceitos. Acontecem, infelizmente, devem ser combatidos, podem ser a causa do desemprego de uns, mas, não de todos. Finalmente, você poderá dizer que teve azar e outro teve sorte…

O ideal nem sempre é atingido, porém, deve ser permanentemente buscado: patrões e empregados competentes e honestos, juntos, numa relação justa e harmoniosa. O ideal não será a perfeição, mas, seguramente, a eficiência.

E como buscar isso? Certamente, gastar sua vida a afirmar e sentir que seu desemprego (ou seu emprego medíocre, sem ascensão e de baixa remuneração) é culpa exclusiva de todo mundo, menos de você, também, principalmente, é o seu primeiro e maior erro. Eliminar esse pensamento equivocado tem que ser sua primeira lição a aprender e praticar.

Se você é vítima de injustiças, também é injusto ao simplesmente condenar terceiros sem antes refletir e tentar colocar-se no lugar deles e perguntar-se: – Será que eu não faria a mesma coisa?

Se você se dá ao direito de tentar escolher as melhores melancias, porque um empregador escolheria uma melancia estragada, fora do ponto ou de má qualidade (empregado instável, revoltado, desqualificado etc.)? Não esquecer que, por melhor que seja o candidato ao emprego disponível, pode não ser o que o empregador queira e precise naquele momento. Ou quer e precisa, só que não pode contratar ($).

Nós passaremos nossas vidas escolhendo e sendo escolhidos. As melhores pessoas e profissionais (em todos os níveis e lugares) serão sempre as mais requisitadas (mesmo quando não contem com apadrinhamentos, dinheiro ou… sorte). Mesmo que fracassem ou venham a ser injustiçadas, às vezes, sempre serão as favoritas ao sucesso. Você pode ser pobre e simples; pode ter dificuldades muitas – que outros não têm ou tiveram, mas, não precisa ser sempre o último da fila. Ninguém é tão limitado a ponto de não saber fazer nada e ser incapaz de melhorar. Agora, tem que crer, querer e tentar, todos os dias da sua vida (talvez, a isto se possa chamar de sorte). E não adianta ser imediatista: é investimento de longo prazo.

Você é infinitamente melhor e mais importante que uma melancia. Então, não se comporte como se sua cabeça fosse como alguma delas: mal cultivada, pequena, sem doçura, prematuramente passada do ponto, definitivamente…

José Carlos de Oliveira

Publicado originalmente em 3 de novembro de 2004

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