Não sabemos nem do nosso daqui a pouco…

Num fim de semana, pensei em escrever estas linhas no começo da tarde do sábado, horas antes de presidir a Celebração das Exéquias da senhora Maria Cícera dos Anjos ou “Cisse”, que não conheci em vida, irmã do Pedro e cunhada da Márcia, casal de amigos e contemporâneos da saudosa e querida Rede Ferroviária Federal, da qual optei por sair em 1990, então com 24 anos, após 10 anos nela.

Escrevi no fim da tarde do domingo, horas após presidir as Exéquias do senhor Luiz Tonel, esposo da senhora Rosa, pai do José Luiz e da Inês: nossos pais se tornaram vizinhos quando todos nós, os filhos, éramos crianças e não mudaram mais daquela rua com apenas oito casas nas quais, com exceção de uma, havia a coincidência de ter um ou dois moradores com nome Luiz.

Exéquias, do verbo latino “exsequi”, significa “seguir” ou realizar ritos e orações em favor de ente falecido. Em todos os tempos os povos desenvolveram ritos relacionados aos seus defuntos e familiares. Assim é no Cristianismo e ao longo dos seus dois milênios a Igreja a vem adequando e realizando, chamando também de Celebração da Esperança, uma das três virtudes teologais. Celebra-se com fé na ressurreição, crente no amor oferecido por Deus, com esperança de vida eterna a quem retribuir e corresponder cotidianamente ao amor d’Ele, ainda que imperfeitamente, desde que com honesto esforço, reencontrando amigos e amados que partiram antes.

Esta e outras celebrações, pregações e formações sou investido (algo como nomeado e autorizado) para realizar desde 2004, pela Arquidiocese de Curitiba. Então, além de cumprir outras condições, me impus propósito de estudar e me aprofundar em período integral, para que a formação acadêmica, especializações, cursos, leituras, orações etc me ajudem a agir e servir melhor, apesar dos meus limites e erros. Quando vejo ante o espelho da consciência constato a retidão do meu caráter, porém, reconheço o quanto ainda preciso melhorá-lo e, muitíssimo, ao meu vocabulário e comportamento cotidiano…

Quando do falecimento de alguém, quanto maior a dor da perda, maior a tendência às repetições: “precisamos nos ver mais para não nos encontrarmos somente em velórios”, “como o tempo passar rápido” e coisas assim.

Entretanto, em todas as épocas e lugares as pessoas – quase todas – vivem desperdiçando o tempo que passa na velocidade de sempre e atualmente parece mais veloz do que nunca. E mesmo entre os que são ou tentam ser honestos o desperdício tende a ser maior e mais tolo porque para alcançar até as metas mais aceitáveis e necessárias – família, estudo, trabalho, lazer; fé e religião e/ou espiritualidade – a opção preferencial continua sendo se valer de mentira, vaidade, preguiça, inveja, fofoca, ganância, cobiça, violência; e com cada vez mais indiferença, superficialidade, egoísmo e separatismo. Sendo que os sentimentos e comportamentos antagônicos a esses são indiscutivelmente melhores e corretos…

Considerando-se as consequências de injustiças e desigualdades ou enfermidades e acidentes, a cada pessoa é dada a possibilidade de perceber e de escolher o que quer para a sua vida: quantas vezes se fizerem necessárias e tanto melhor será quanto antes acontecer a percepção e escolha determinante para começar a segunda parte da vida, e que fará todo sentido e poderá gerar a realização plena à qual todo ser humano almeja e merece.

Se cada minuto desperdiçado ou bem investido não voltará jamais: como costumo dispor dos meus minutos? E você dos seus? Principalmente: usando a tecnologia para se conservar próximo dos queridos e amados que estão distantes fisicamente; e dispensando a tecnologia para que ela não seja a arapuca que impede de se conservar próximo dos que estão ao alcance do olhar, do abraço, do beijo e do aperto de mãos!

A vida pode ser cada vez mais longeva, porém, é da sua natureza a brevidade: não sabemos nem do amanhã, quanto mais do daqui a pouco!…

Publicação original em 25 de julho de 2023

José Carlos de Oliveira

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